quarta-feira, 28 de março de 2007

Israel, com 6 milhões de habitantes, fica entre 344 milhões de árabes




Política e diplomacia
Em busca da sobrevivência.
E com vizinhos hostis

Israel, com 6 milhões de habitantes,
fica entre 344 milhões de árabes

Cercados por 344 milhões de árabes, os 6 milhões de israelenses mantêm com seus vizinhos relações que oscilam bruscamente entre a diplomacia e a violência –constantemente, os atos de ambos os lados pendem para o segundo ponto. O moderno Estado judeu nasceu em 1948, mesmo ano em que floresceram as sementes das discórdias locais, cujas raízes têm, literalmente, origens milenares. Desde então, tomando a iniciativa ou apenas reagindo, Israel avançou sobre terras na Palestina oficialmente destinadas aos árabes. Nos lances mais recentes deste belicoso xadrez, porém, seus dirigentes deram mostras de que pretendem voltar às fronteiras originais de seu Estado – definidas pela ONU em 1947 –, encastelando-se em seu território altamente fortificado contra agressores.


Árabes e judeus reivindicam o privilégio de haver pisado primeiro na Palestina. Para compreender os problemas atuais, porém, é explicativo retroceder até o final do século XIX, quando teve início o movimento Sionista – que defendeu a criação de um Estado judeu na Palestina. Vale observar que, em 1918, a região tinha 700.000 habitantes: 644.000 árabes (574.000 muçulmanos e 70.000 cristãos) e apenas 56.000 judeus. De qualquer forma, para lá migraram milhares deles. Fundado oficialmente no dia 14 de maio de 1948, o Estado judeu foi atacado no mesmo ano por uma liga de nações árabes que não aceitava sua existência. Ao final do conflito, Israel não só estava de pé, mas expulsara milhares de árabes de suas casas. Em 1967, nova investida israelense, que passou a controlar uma fina fatia de terra ao sul da Palestina, chamada de Gaza, e também uma porção central, a Cisjordânia. Cerca de 800.000 palestinos fugiram ou foram expulsos, e Israel iniciou a colonização dos espaços deixados, fixando milhares de colonos nos territórios ocupados.


A entrada do Líbano na rota de colisão com Israel começou a ser pavimentada em 1968. Com a expulsão de suas casas, os palestinos se refugiaram no sul libanês. Isso fez com que, aos poucos, ganhasse força no país uma instância de defesa dos refugiados, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP). Em 1975, explodiu a guerra civil libanesa, que perduraria pelos 15 anos seguintes. O conflito envolveu a OLP e milícias cristãs e muçulmanas. Em 1982, Israel invadiu o sul do país, reagindo a ataques palestinos – os israelenses só retrocederiam em 2000. Como reação à presença israelense, nasceu o grupo de inspiração xiita Hezbollah, com forte atuação política e também armada, impondo inúmeros ataques a Israel e ações consideradas terroristas.


Política doméstica – Nos momentos mais cruciais de sua história, Israel apareceu unido para enfrentar o adversário externo. Isso não quer dizer, porém, que não haja divergências internas. Durante boa parte de sua existência moderna, o país viu o poder nacional disputado por dois protagonistas: o Partido Trabalhista e o direitista Likud. Um dos flashs mais ilustrativos da força dessas duas correntes pôde ser obtido na disputa parlamentar de 1996, em que estavam em pauta questões delicadíssimas, como o fim da ocupação do Líbano e a negociação com palestinos acerca dos territórios ocupados.


Os trabalhistas, representados por Shimon Peres, propunham a negociação com os árabes. Já o Likud, liderado por Benyamin Netanyahu, abusou de imagens de ônibus atingidos por bombas do Hezbollah para enfatizar os percalços do processo de paz. O primeiro dizia que endurecer com os palestinos só levaria a uma escalada de violência; o outro garantia que Israel já havia concedido demais aos árabes. Por fim, atentados terroristas provocados por facções islâmicas às vésperas das eleições acabaram por empurrar o cargo de primeiro-ministro para os braços do Likud.


Esperança – Em 1993, o mundo assistiu esperançoso a um aperto de mãos entre o então premiê israelense, Yitzhak Rabin, e o então presidente da OLP, Yasser Arafat. Nos Estados Unidos, eles assinaram a "Declaração de Princípios sobre as Disposições Interinas de Auto-Governo". Foi lançada ali a rota da paz, seguida até hoje, apesar de inúmeros desvios: entrega para a administração palestina de parte da Cisjordânia e da Faixa de Gaza. No dia 1º de Julho de 1994, Arafat entrou em Gaza, depois de décadas de exílio.


Desde o acordo, o processo de paz atravessou inúmeras paralisações. Em 2000, explodiu em Gaza a segunda Intifada, revolta palestina contra a ocupação israelense, que desaguou em repressão das forças de segurança de Israel nas ruas palestinas e também em ataques à bomba contra civis israelenses. Assim mesmo, Israel encerrou a retirada de sua população de Gaza em 2005. No plano externo e doméstico, a grande discussão passou a ser o destino da Cisjordânia, onde vivem 250.000 colonos judeus e 2,3 milhões de palestinos.
Editora Abril---

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