quarta-feira, 28 de março de 2007

Negócios História

Lembram-se da Uzi? Foi aposentada
Por: Ariel Finguerman, de Hertzlia

Discretamente, porque é assim que funciona esse negócio, Israel transformou-se em 2003 em um dos maiores exportadores mundiais de armamentos. Segundo a revista norte-americana Defense News, o Estado judeu é hoje o terceiro maior comerciante mundial de armas – atrás apenas dos Estados Unidos e Rússia. Esta marca impressionante é resultado de vendas milionárias recentes a dois países até há pouco tempo hostis ao

Estado judeu:

Turquia e Índia

Existem hoje cerca de duzentas empresas de armas em Israel, mas apenas cinco controlam 90% das vendas para o mercado exterior. Visitei recentemente uma das maiores indústrias de armas do país, a IMI (Israel Military Industries), uma gigantesca estatal com fábricas espalhadas por todo o país e quatro mil funcionários. Talvez o leitor não conheça a IMI, mas certamente já ouviu falar de alguns de seus produtos, como a submetralhadora Uzi ou o míssil Arrow.

A visita foi ao superprotegido complexo da IMI próximo de Hertzlia, a vinte minutos de Tel Aviv. Aqui nenhum jornalista está autorizado a tirar fotos e o visitante nunca fica sozinho. Há sempre um funcionário por perto, ao mesmo tempo prestativo e vigilante. Como este conjunto está localizado numa área bem povoada de Israel, casas e edifícios civis rodeiam toda a planta, mas cercas elétricas e arames farpados marcam bem a divisão.

Durante nosso trajeto pela imensa fábrica, vi tanques turcos M-60 que Israel repotencializa e cujo desempenho é melhorado ao custo total de US$ 700 milhões. Este contrato, que causou inveja aos concorrentes americanos e europeus, foi o responsável por colocar Israel no topo dos países comerciantes de armas, além de consolidar ainda mais a estratégica aliança militar com a Turquia. Os tanques turcos ficam num imenso galpão, por onde passamos de carro. Perto dali, em um escritório onde trabalham funcionários turcos e israelenses, tremulam as bandeiras de Israel e da Turquia.

O diretor do setor de desenvolvimento de armas leves da IMI, Zalman Shebs, esperava a reportagem da revista Hebraica em sua sala de visitas decorada com dezenas de pistolas, fuzis e metralhadoras. O departamento é responsável, entre outras coisas, pela criação da famosa submetralhadora Uzi. Ele mostra uma foto do atentado contra o presidente Ronald Reagan em 1981 e aponta, orgulhoso, um dos guarda-costas armado com uma Uzi.

A famosa submetralhadora se tornou sinônimo do êxito israelense no setor de armas, mas hoje representa pouco para o orçamento da IMI. "A Uzi continua sendo um produto confiável, mas sua venda é pequena. Até paramos de fabricar sua versão standard", diz Shebs. Em compensação, com o passar dos anos se formou uma verdadeira "família" de Uzi’s, com diferentes versões e tamanhos para as mais variadas situações. A versão mais requisitada é a micro-Uzi, usada por guarda-costas e policiais de unidades especiais.

Se no passado os fabricantes da Uzi se preocupavam em mirar contra terroristas e criminosos, na atual economia globalizada os inimigos são outros. "Hoje existem várias imitações ilegais da Uzi circulando pelo mundo e é difícil acabar com elas", diz Schebs. Quando pergunto como a submetralhadora israelense chega às favelas brasileiras, onde costuma ser a "queridinha" dos traficantes de drogas, Shebs responde que algumas delas devem ser versões piratas. Outras, acredita, devem ter sido contrabandeadas ou roubadas. Ele ressalta que a IMI não tem o total controle da produção da Uzi pois muitas são fabricadas sob licença na Bélgica e Croácia e, portanto, a fábrica israelense só pode se responsabilizar pelas armas que saem das dependências de Hertzlia. "Além do mais, todas as nossas vendas são controladas pelo governo", diz.


Tavor, o rifle

Atualmente, Shebs tem pouco tempo a perder com a Uzi e suas preocupações estão voltadas para o novíssimo rifle de assalto Tavor, projetado pela IMI para competir em um dos mercados mais importantes da indústria de armamentos. O nome homenageia o Monte Tavor, da Galileia, onde segundo a Bíblia as forças lideradas pelo comandante israelita Barak e pela profetisa Débora derrotaram o inimigo canaanita liderado pelo comandante Sisera, no tempo dos Juízes (shoftim).

Em novembro passado, o exército norte-americano anunciou que o seu rifle de assalto M-16, usado por todo soldado de infantaria dos EUA – e de Israel também – está com os dias contados. Popular desde a Guerra do Vietnã, o M-16 revelou toda sua ineficiência na Guerra do Iraque. Centenas de soldados reclamaram que o rifle "engasgou" com a areia do deserto, falhando quando mais precisavam dele. O M-16 também demostrou ser grande demais, um verdadeiro trambolho, para os pequenos e ágeis veículos blindados – o meio mais usado nos últimos meses para o transporte de tropas no Iraque.

A notícia da aposentadoria do M-16 agitou a indústria de armamentos, incluindo, é claro, a israelense. A IMI tem planos grandiosos para o Tavor. "Existem boas chances de fornecer para o exército norte-americano e para a Otan, mas será um longo processo", diz Shebs. Por enquanto, alguns milhares do Tavor já foram vendidos para os exércitos da Índia e de Israel. Engana-se quem pensa que o exército israelense comprou o Tavor só porque foi produzido no país. "Eles são rígidos na escolha e bastante profissionais. Ele nos dão preferência, mas se constatarem que o rifle de um país concorrente é melhor, comprarão do exterior. E eles estão certos ao fazer isto", diz Shebs.

Ao empunhá-lo, senti que o Tavor é uma arma leve (2,8 quilos contra 3,4 quilos do M-16). O fabricante o apresenta como "o menor e mais leve rifle de assalto do mundo" e suas características tecnológicas são de última geração. O soldado não precisa mais fechar um olho para usar a mira. Se preferir, nem precisa usar a mira: basta acionar um feixe de laser para localizar o alvo e atirar mesmo com a arma na altura da cintura.

Esta tecnologia foi totalmente desenvolvida em Israel a partir da experiência acumulada desde a Guerra do Líbano. Diz Shebs: "A maior parte dos combates mundiais não acontecem mais em campos abertos com tanques. As batalhas hoje são urbanas, sejam no Afeganistão, no Iraque ou nos territórios palestinos. Há muitos anos enfrentamos o que os EUA encaram somente agora. Desenvolvemos o Tavor para o soldado que precisa lutar até dentro de um quarto e que necessita reagir rapidamente."

A próxima "batalha" da IMI já tem até local marcado: Lisboa. O exército português acaba de abrir concorrência internacional para comprar cerca de 45 mil rifles de assalto, negócio avaliado em US$ 45 milhões. Entre os concorrentes, a Tavor "lutará" contra o M-4, a nova versão norte-americana do M-16. Se vencer esta verdadeira guerra, a indústria militar israelense se estabelecerá ainda com maior força entre os gigantes do mercado de armas.

Israel foi hábil em transformar em negócio lucrativo sua necessidade permanente de estar sempre atualizado com os mais novos armamentos. O sucesso do país no mercado de armamentos poderia ser motivo para comemoração, mas não entusiasma o criador da Tavor. "Mesmo com todo este sucesso, ainda gostaria que Israel não tivesse de se envolver com armas. Preferia ver o país campeão, por exemplo, em computadores", diz Shebs.

OS NÚMEROS DA INDÚSTRIA MILITAR ISRAELENSE

Israel é o 3º maior exportador de armamentos do mundo. Em 2002, o país vendeu armas no valor de US$ 4,1 bilhões, num total de

US$ 30 bilhões de exportações.

Isto é, mais de 10%

Um ano antes, a exportação de armas era de apenas US$ 2,6 bilhões.

Os Estados Unidos são os maiores exportadores de armas do mundo, com US$ 13,2 bilhões de vendas, seguidos da Rússia, com US$ 4,4 bilhões. Faltam, portanto, pouco mais de US$ 300 milhões para Israel suplantar a Rússia

A Índia é o maior cliente dos fabricantes de aviões israelenses. É para lá que vão 50% das exportações

A UZI, em letra e música

É verdade que a submetralhadora Uzi, deixou de ser fabricada em sua versão standard, mas ela já faz parte do imaginário popular ao redor do mundo. Como a menção explícita a ela em letras de músicas brasileiras e norte-americana.

"A novidade cultural da garotada favelada, suburbana, classe média marginal é informática metralha sub-Uzi equipadinha com cartucho musical de batucada digital"
("Rio 40 Graus", de Fernanda Abreu)


"Menos de 5% dos caras do local são dedicados a alguma atividade marginal e impressionam quando aparecem nos jornais tapando a cara com trapos com uma Uzi na mão parecendo árabes do caos"
("Hey Joe", de O Rappa)


"Então quem está trazendo as armas para dentro deste país? Eu não conseguiria passar com uma pistola de brinquedo pela alfândega de Londres E na semana passada eu vi um filme de Schwarzenegger No qual ele atira contra todo tipo de cara com uma Uzi Eu vejo três moleques, sentados na primeira fileira, Gritando: ‘É isso aí!’"
("Who Knew", de Eminem)



* Matéria Extraída da Revista "A HEBRAICA"

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