quarta-feira, 28 de março de 2007

Sociedade e cultura

Os grupos extremistas não
estão só do outro lado

Grupos radicais tentam frear concessões.
Árabes têm convivência difícil

No dia 4 de novembro de 1995, um universitário israelense de 24 anos disparou três tiros contra o então primeiro-ministro Yitzhak Rabin. Yigal Amir – que foi condenado à prisão perpétua – pertencia a um grupo da ultradireita religiosa israelense que se opunha ao acordo de paz firmado por Rabin com os palestinos dois anos antes. Pelo acerto, os israelenses iniciariam uma lenta e cuidadosa retirada dos territórios ocupados, permitindo o retorno dos palestinos a Gaza e à Cisjordânia e transferindo-lhes paulatinamente controle sobre aqueles territórios. O estudante Amir acreditava que Israel fizera concessões demais aos vizinhos. O episódio ilustra o grau da divisão existente entre os israelenses.


A nação israelense tem uma configuração incomum: é um Estado que se confunde com uma religião, a judaica. A despeito disso, a liberdade de credo é garantida aos cidadãos. Mas justamente por ser construído com essa argamassa, o país vive o choque de posições religiosas e políticas, que competem na condução do destino nacional – e espiritual. O judaísmo, que traz consigo uma vasta cultura milenar, fracionou-se em correntes: ortodoxos, ultra-ortodoxos, conservadores, renovados e reformados, entre outros. Do ponto de vista da ação política, observa-se fenômeno semelhante.


Lar divino – Dessa forma, toda vez que governos tentam caminhar para a paz lado a lado com os palestinos, surgem fortes resistências entre os próprios israelenses. No mundo político, os membros do Likud, partido de direita, opuseram-se durante anos à concessão de direitos aos palestinos. Minavam, assim, todas as operações do Partido Trabalhista – do qual Yitzhak Rabin era um expoente. Por sua vez, quando o então primeiro-ministro Ariel Sharon, um dos mais duros líderes do Likud, decidiu entregar as chaves de Gaza à administração palestina, em 2005, foi duramente atacado por boa parte dos compatriotas.


Os israelenses assentados nos territórios ocupados sentiram-se traídos pela decisão de Sharon. Afinal, eles haviam se instalado em Gaza (e também na Cisjordânia) devido a incentivos e subsídios de sucessivos governos de Tel Aviv. Para os mais religiosos, havia ainda um agravante: Gaza fazia parte do contrato imobiliário irrenunciável confiado pelo próprio Jeová ao povo de Israel. Como entregar, então, aquela terra aos homens de Alá? Diante da ira de membros de sua própria tribo, um Sharon acuado queixou-se: "Eu passei toda a minha vida defendendo os judeus. Agora, tenho de me defender dos judeus."


Vida árabe – É precária a situação dos árabes que permaneceram em Israel e também daqueles que vivem nos territórios ocupados pelos israelenses desde 1948. Assim que os conflitos começaram, palestinos migraram em massa para Gaza em busca de abrigo. Atualmente, a Faixa é também símbolo de resistência, mas também de pobreza, desemprego e da falta de perspectivas. Até 2000, quando teve início a mais recente Intifada – revolta contra a ocupação –, mais de 30 mil palestinos cruzavam todos os dias a fronteira sul de Israel em busca de trabalho no Estado judeu. Porém, com o aumento da violência e de ataques terroristas, bloqueios foram levantados na passagem. A medida dificultou o trânsito de trabalhadores e ocasionou a extinção de postos de trabalho entre os palestinos. A renda local caiu bruscamente.


No limite, o projeto israelense é isolar-se da população árabe. Pretende, dessa forma, evitar eventuais ataques terroristas contra a sua população. Uma das medidas em curso nesse sentido é a construção de um gigantesco muro que pretende isolar a Cisjordânia: serão quase 700 quilômetros de puro concreto e polêmica. A construção foi criticada dentro e fora de Israel. Em 2005, a Corte Internacional de Justiça de Haia determinou a interrupção da construção, alegando que o traçado do muro separaria comunidades e até mesmo famílias – a exemplo do que produziu na Alemanha o Muro de Berlim nos tempos de Guerra Fria. A Justiça israelense recusou a decisão e manteve a construção.

 

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